Dormi contigo toda a noite
junto ao mar, na ilha.
Eras doce e selvagem entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Os nossos sonos uniram-se
talvez muito tarde
no alto ou no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento agita,
em baixo como vermelhas raízes que se tocam.
0 teu sono separou-se
talvez do meu
e andava à minha procura
pelo mar escuro
como dantes,
quando ainda não existias,
quando sem te avistar
naveguei a teu lado
e os teus olhos buscavam
o que agora
— pão, vinho, amor e cólera —
te dou às mãos cheias,
porque tu és a taça
que esperava os dons da minha vida.
Dormi contigo
toda a noite enquanto
a terra escura gira
com os vivos e os mortos,
e ao acordar de repente
no meio da sombra
o meu braço cingia a tua cintura.
Nem a noite nem o sono
puderam separar-nos.
Dormi contigo
e, ao acordar, tua boca,
saída do teu sono,
trouxe-me o sabor da terra,
da água do mar, das algas,
do âmago da tua vida,
e recebi teu beijo,
molhado pela aurora,
como se me viesse
do mar que nos cerca.
Pablo Neruda, nascido Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto,
filho de um ferroviário com uma professora, o poeta teve um início de vida
trágico tendo logo cedo ficado órfão de mãe. Com uma vocação literária
inegável, quando ainda estava na escola já publicava os seus poemas em um
jornalzinho local.
Foi um poeta chileno, considerado um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX. Além de escritor, Ricardo foi também diplomata e representou o seu país como cônsul-geral em vários consulados como no Siri Lanka, no México, na Espanha e em Singapura.
Conciliando as tarefas de funcionário público com a paixão
pela poesia, Pablo Neruda nunca deixou de escrever. Sua produção literária é tão
importante que o poeta chegou a receber uma série de prêmios, entre eles o mais
importante foi o Prêmio Nobel em 1971.
Comunista, o poeta teve problemas ao retornar para o Chile e
chegou a ser exilado do país, tendo retornado só depois das liberdades
políticas terem sido restabelecidas.
Neruda foi um poeta muito apaixonado, casando-se três vezes.
Primeiro, casou-se com a holandesa Maria Antonieta Hagenaar. Depois com a
argentina Delia del Carril e, por fim, com a chilena Matilde Urrutia, com quem
permaneceu até os últimos dias.
Pablo Neruda faleceu na capital chilena no dia 2 de setembro
de 1973.
Nenhum comentário:
Postar um comentário