terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Eu (Clarice Lispector)

 

Sou composta por urgências:

minhas alegrias são intensas;

minhas tristezas, absolutas.

Entupo-me de ausências,

Esvazio-me de excessos.

Eu não caibo no estreito,

eu só vivo nos extremos.

 

Pouco não me serve,

médio não me satisfaz,

metades nunca foram meu forte!

 

Todos os grandes e pequenos momentos,

feitos com amor e com carinho,

são pra mim recordações eternas.

Palavras até me conquistam temporariamente…

Mas atitudes me perdem ou me ganham para sempre.

 

Suponho que me entender

não é uma questão de inteligência

e sim de sentir,

de entrar em contato…

Ou toca, ou não toca.


quarta-feira, 5 de agosto de 2020

LENDA DA ILHA ENCANTADA


A narrativa que vou compartilhar hoje, é parte integrante de um trabalho acadêmico de pesquisa sobre os contos  e "causos" , que são passados de geração em geração. A pesquisa foi feita com um grupo de colegas de classe, como parte avaliativa da disciplina Literatura Amazônica. A estória  contém o sotaque nativo dos moradores da Ilha de Marajó, desse modo, vou publicar na íntegra o "causo" que ouvimos de uma senhora de 72 anos de idade. A mesma afirma que as estórias são verdadeiras.

Esta narrativa ocorreu no município de Bagre. Segundo (Dona Alda Gonçalves).

Pois é,  meus filhos, essa estória é de uma menina que namorava um rapaz munto bunitu então, ninguém cunhecia eli, eli só aparecia na festa. Toda festa qui tinha eli tava, e ela tava, ela ficava com eli, quandu foi um dia. No finzinho da festa, quando já tinha poca genti.

 Ele dissi pra ela não olhá pra ele di dia.

- Eu vou durmi intão ela disse:

- Vai durmi no meu quarto ele disse: Tá! Mas quatro horas da manhã tu me chama, ai eli entrou la pru quartu dela i ela foi deitá também pru outru quartu. Aí, ela pegou nu sonu quandu ela si lembrô o dia tava claru. ai ela foi abriu a porta do quarto olhô, si assustu quando viu que tava lá um montuero de cobra, certo com a coberta da casa, quandu abriu a casa que viu tava dia, que o dia tava claru, eli só deu um esturro i incantou a ilha com tudo.

A ilha era pertu da ilha do ioiá, ai no Bagre, ai a cidadi afundô tudu, qui quandu chega o tempo dessa festa a genti iscuta a musica galu canta. Tudo a genti escuta.

 ( Pesquisadores): -É verdadeira essa história ai? Resposta: É verdadeira sim meus filhos.

Era Nossa Senhora da Conceição dia 8 de Dezembru naum sei o anu e lá dondi aconteceu issu nasceu uma toceira de cana, com três canas, então lá desdi essa época, os moradores lá di perto dize que pra disincatá a ilha teim qui atorá a cana beim nu meiu, só cum uma teçadada sem firir as du ladu, pra poder a cidadi voltá. Ai ninguém tem coragi! E continua o mistério até huje, só se vê as luz piscando de nuite.

Segundo Benjamim (1993 p. 197-221), “o Brasil ainda é um país da voz oral, mesmo nas cidades grandes, onde se presume a inexistência de narrativas de apelos populares, ele continua afluir com mesmo caráter admoestador e mágico”. 


FORMAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA

          Em um contexto histórico a formação literária brasileira teve inicio com a colonização do Brasil, no período denominado Quinhentismo, que data de 1500 a 1601, mas ainda sofrendo fortes influencias dos colonizadores portugueses, sem apresentar nenhum estilo literário articulado e desenvolvido.

         O marco inicial da Literatura brasileira  se deu a partir do século XVI, através de um sistema de produção, divulgação e leitura de obras. Dentre as quais estavam à carta de Pero Vaz de Caminha, as crônicas, poesias e Sermões do Padre José de Anchieta. Esses documentos reconhecidos como manifestações literárias do Quinhentismo denominadas de literatura informativa e de catequese, por tratarem de uma descrição do país. Portanto, não são consideradas propriamente Literatura brasileira, mas Literatura do Brasil.

         A partir do século XVII, depois da Reforma e contra- reforma da igreja  surge o Barroco brasileiro, que foi chamado por alguns historiadores como Escola Baiana.  Não se pode dizer que existisse um ambiente literário na Bahia. A Literatura brasileira era bastante esparsa.

         O único autor de relevo no seiscentismo foi Gregório de Matos Guerra, que para alguns historiadores é o iniciador da Literatura brasileira, mas é interessante ressaltar que ele não escrevia com consciência e sim com a intenção de criticar o governo Baiano. Sua obra recebeu influencias do Cultismo de Gongora e do Conceptismo de Quevedo.

        O poeta teve suas obras divididas em: Sacras, satírica, amorosa e de escarnio, por sua irreverência em não poupar a ninguém recebeu o apelido de “Boca do Inferno”.

A Jesus Cristo, Nosso Senhor

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,

Da vossa alta clemência me despido;

Antes, quanto mais tenho delinquido,

Vos tenho a perdoar mais empenhado.

 

Se basta a vos irar tanto pecado,

A abrandar-vos sobeja um só gemido:

Que a mesma culpa, que vos há ofendido,

Vos tem para o perdão lisonjeado.

 

Se uma ovelha perdida já cobrada,

Glória tal e prazer tão repentino

Vos deu, como afirmais na Sacra História:

 

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,

Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória.