O Norte do Brasil é repleto de lendas
fascinantes, e uma delas envolve o pássaro alma-de-gato, conhecido como chincoã
ou tincoã. Esses nomes têm o significado de "pássaro-feiticeiro".
Segundo a tradição, o canto do chincoã é presságio de morte: quem o escuta
estaria com os dias contados.
Minha avó adorava contar a história de um homem
chamado Chico e sua fatídica experiência com o chincoã. Ela sempre dizia: "Nunca
se deve mexer com os bichos". Chico aprendeu essa lição de forma
terrível.
Ele era um caboclo solitário, sem família, que
vivia às margens do rio Amazonas, no interior do Pará. Homem rude e descrente,
Chico dizia não acreditar em Deus nem em "visagens". Passava seus
dias na mata, cortando estacas — pedaços de madeira usados para construir
cercas. Para ele, não havia feriados ou dias santos. Todas as manhãs, saía cedo
de seu barraco com machado e terçado na mão, pronto para o trabalho.
Certo dia, exausto e faminto, enquanto apontava estacas, Chico ouviu o canto
de um chincoã próximo. Irritado, começou a xingar o pássaro:
— Te esconjuro, pássaro da morte! Vá de retro! Vá incomodar a tua mãe! Se não
tens o que fazer, ao menos vem apontar as estacas no meu lugar!