Quando eu era criança, minha mãe costumava contava
um “causo real” sobre um homem chamado Lúcio, conhecido por sua maldade e
avareza. Ele era como os antigos coronéis do século XIX, arrogante e
autoritário, sua palavra era lei para os que o cercavam. A fama de Lúcio se
espalhava longe, e todos os vizinhos da região o temiam. Ele vivia nas
proximidades da casa da família da minha mãe, no interior de um município do
Pará.
Segundo os relatos de minha mãe, Lúcio morava com
a esposa e os filhos. Na casa dele, havia um pequeno comércio de variedades à
beira do rio. Porém, o que ele ganhava raramente era usado para o bem-estar da
família. Lúcio investia em terras ou escondia suas economias, sem partilhar
nada. Sua esposa, submissa, vivia sob constante repressão. Até mesmo a
alimentação em casa era racionada, e eles só comiam o que sobrava. Para piorar,
seus fregueses viviam praticamente em regime de escravidão, trabalhando em
troca de comida e abrigo.
Certa vez, em pleno inverno amazônico, quando a
chuva era constante e os alimentos estavam escassos — peixe, caça e camarão
eram difíceis de encontrar —, Lúcio decidiu que iria caçar um gavião para
comer. Antes de sair, ordenou à esposa que colocasse água para ferver, pois,
segundo ele, bastaria depenar o bicho quando o trouxesse. No entanto, sua caçada
foi frustrada, e ele retornou de mãos vazias. Furioso, gritou para a esposa:
— Mata o galo, diabo!
A mulher, hesitante, respondeu:
— Se eu matar o galo, as galinhas não vão botar ovo...
Mas Lúcio não admitia ser contrariado. Enfurecido, ameaçou:
— Se você não matar o galo, eu mato você no lugar dele!
Com o passar dos anos, Lúcio se tornava cada vez
mais amargo. Sua avareza aumentava a cada dia, e ele sempre afirmava que,
quando morresse, não deixaria nada do que havia conquistado para ninguém.
Gritava que quem quisesse algo deveria fazer como ele e trabalhar arduamente.
Num determinado momento, Lúcio mandou sua esposa
e filhos irem embora, decidindo viver sozinho. Foi então que cometeu um ato
extremo: resolveu destruir tudo o que possuía. Pegou galões de querosene,
espalhou ao redor da casa e jogou o combustível em seus pertences. Subiu em sua
canoa, remou até o meio do rio e, de lá, atirou um fósforo aceso para iniciar o
incêndio.
Enquanto as chamas consumiam sua casa e as explosões dos barris de pólvora ecoavam,
ele gritava:
— Queima, diabo! Eu prefiro ver tudo arder diante dos meus olhos a deixar para
eles jogarem fora o que conquistei!
Após o incêndio, Lúcio remou até o vilarejo mais
próximo, onde pediu abrigo a um morador. Ele ficou por lá por tempo indeterminado.
Segundo as pessoas que o conheceram, Lúcio morreu miserável e sozinho em um
casebre à beira do rio. Sua mulher e seus filhos desapareceram sem deixar
vestígios, e ninguém jamais soube notícias deles.
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