sexta-feira, 22 de novembro de 2024

O HOMEM AVARENTO


Quando eu era criança, minha mãe costumava contava um “causo real” sobre um homem chamado Lúcio, conhecido por sua maldade e avareza. Ele era como os antigos coronéis do século XIX, arrogante e autoritário, sua palavra era lei para os que o cercavam. A fama de Lúcio se espalhava longe, e todos os vizinhos da região o temiam. Ele vivia nas proximidades da casa da família da minha mãe, no interior de um município do Pará.

Segundo os relatos de minha mãe, Lúcio morava com a esposa e os filhos. Na casa dele, havia um pequeno comércio de variedades à beira do rio. Porém, o que ele ganhava raramente era usado para o bem-estar da família. Lúcio investia em terras ou escondia suas economias, sem partilhar nada. Sua esposa, submissa, vivia sob constante repressão. Até mesmo a alimentação em casa era racionada, e eles só comiam o que sobrava. Para piorar, seus fregueses viviam praticamente em regime de escravidão, trabalhando em troca de comida e abrigo.

Certa vez, em pleno inverno amazônico, quando a chuva era constante e os alimentos estavam escassos — peixe, caça e camarão eram difíceis de encontrar —, Lúcio decidiu que iria caçar um gavião para comer. Antes de sair, ordenou à esposa que colocasse água para ferver, pois, segundo ele, bastaria depenar o bicho quando o trouxesse. No entanto, sua caçada foi frustrada, e ele retornou de mãos vazias. Furioso, gritou para a esposa:
— Mata o galo, diabo!

A mulher, hesitante, respondeu:
— Se eu matar o galo, as galinhas não vão botar ovo...

Mas Lúcio não admitia ser contrariado. Enfurecido, ameaçou:
— Se você não matar o galo, eu mato você no lugar dele!

Com o passar dos anos, Lúcio se tornava cada vez mais amargo. Sua avareza aumentava a cada dia, e ele sempre afirmava que, quando morresse, não deixaria nada do que havia conquistado para ninguém. Gritava que quem quisesse algo deveria fazer como ele e trabalhar arduamente.

Num determinado momento, Lúcio mandou sua esposa e filhos irem embora, decidindo viver sozinho. Foi então que cometeu um ato extremo: resolveu destruir tudo o que possuía. Pegou galões de querosene, espalhou ao redor da casa e jogou o combustível em seus pertences. Subiu em sua canoa, remou até o meio do rio e, de lá, atirou um fósforo aceso para iniciar o incêndio.

Enquanto as chamas consumiam sua casa e as explosões dos barris de pólvora ecoavam, ele gritava:
— Queima, diabo! Eu prefiro ver tudo arder diante dos meus olhos a deixar para eles jogarem fora o que conquistei!

Após o incêndio, Lúcio remou até o vilarejo mais próximo, onde pediu abrigo a um morador. Ele ficou por lá por tempo indeterminado. Segundo as pessoas que o conheceram, Lúcio morreu miserável e sozinho em um casebre à beira do rio. Sua mulher e seus filhos desapareceram sem deixar vestígios, e ninguém jamais soube notícias deles.

 

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