quarta-feira, 5 de agosto de 2020

LENDA DA ILHA ENCANTADA


A narrativa que vou compartilhar hoje, é parte integrante de um trabalho acadêmico de pesquisa sobre os contos  e "causos" , que são passados de geração em geração. A pesquisa foi feita com um grupo de colegas de classe, como parte avaliativa da disciplina Literatura Amazônica. A estória  contém o sotaque nativo dos moradores da Ilha de Marajó, desse modo, vou publicar na íntegra o "causo" que ouvimos de uma senhora de 72 anos de idade. A mesma afirma que as estórias são verdadeiras.

Esta narrativa ocorreu no município de Bagre. Segundo (Dona Alda Gonçalves).

Pois é,  meus filhos, essa estória é de uma menina que namorava um rapaz munto bunitu então, ninguém cunhecia eli, eli só aparecia na festa. Toda festa qui tinha eli tava, e ela tava, ela ficava com eli, quandu foi um dia. No finzinho da festa, quando já tinha poca genti.

 Ele dissi pra ela não olhá pra ele di dia.

- Eu vou durmi intão ela disse:

- Vai durmi no meu quarto ele disse: Tá! Mas quatro horas da manhã tu me chama, ai eli entrou la pru quartu dela i ela foi deitá também pru outru quartu. Aí, ela pegou nu sonu quandu ela si lembrô o dia tava claru. ai ela foi abriu a porta do quarto olhô, si assustu quando viu que tava lá um montuero de cobra, certo com a coberta da casa, quandu abriu a casa que viu tava dia, que o dia tava claru, eli só deu um esturro i incantou a ilha com tudo.

A ilha era pertu da ilha do ioiá, ai no Bagre, ai a cidadi afundô tudu, qui quandu chega o tempo dessa festa a genti iscuta a musica galu canta. Tudo a genti escuta.

 ( Pesquisadores): -É verdadeira essa história ai? Resposta: É verdadeira sim meus filhos.

Era Nossa Senhora da Conceição dia 8 de Dezembru naum sei o anu e lá dondi aconteceu issu nasceu uma toceira de cana, com três canas, então lá desdi essa época, os moradores lá di perto dize que pra disincatá a ilha teim qui atorá a cana beim nu meiu, só cum uma teçadada sem firir as du ladu, pra poder a cidadi voltá. Ai ninguém tem coragi! E continua o mistério até huje, só se vê as luz piscando de nuite.

Segundo Benjamim (1993 p. 197-221), “o Brasil ainda é um país da voz oral, mesmo nas cidades grandes, onde se presume a inexistência de narrativas de apelos populares, ele continua afluir com mesmo caráter admoestador e mágico”. 


FORMAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA

          Em um contexto histórico a formação literária brasileira teve inicio com a colonização do Brasil, no período denominado Quinhentismo, que data de 1500 a 1601, mas ainda sofrendo fortes influencias dos colonizadores portugueses, sem apresentar nenhum estilo literário articulado e desenvolvido.

         O marco inicial da Literatura brasileira  se deu a partir do século XVI, através de um sistema de produção, divulgação e leitura de obras. Dentre as quais estavam à carta de Pero Vaz de Caminha, as crônicas, poesias e Sermões do Padre José de Anchieta. Esses documentos reconhecidos como manifestações literárias do Quinhentismo denominadas de literatura informativa e de catequese, por tratarem de uma descrição do país. Portanto, não são consideradas propriamente Literatura brasileira, mas Literatura do Brasil.

         A partir do século XVII, depois da Reforma e contra- reforma da igreja  surge o Barroco brasileiro, que foi chamado por alguns historiadores como Escola Baiana.  Não se pode dizer que existisse um ambiente literário na Bahia. A Literatura brasileira era bastante esparsa.

         O único autor de relevo no seiscentismo foi Gregório de Matos Guerra, que para alguns historiadores é o iniciador da Literatura brasileira, mas é interessante ressaltar que ele não escrevia com consciência e sim com a intenção de criticar o governo Baiano. Sua obra recebeu influencias do Cultismo de Gongora e do Conceptismo de Quevedo.

        O poeta teve suas obras divididas em: Sacras, satírica, amorosa e de escarnio, por sua irreverência em não poupar a ninguém recebeu o apelido de “Boca do Inferno”.

A Jesus Cristo, Nosso Senhor

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,

Da vossa alta clemência me despido;

Antes, quanto mais tenho delinquido,

Vos tenho a perdoar mais empenhado.

 

Se basta a vos irar tanto pecado,

A abrandar-vos sobeja um só gemido:

Que a mesma culpa, que vos há ofendido,

Vos tem para o perdão lisonjeado.

 

Se uma ovelha perdida já cobrada,

Glória tal e prazer tão repentino

Vos deu, como afirmais na Sacra História:

 

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,

Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória.

                    

FLORBELA ESPANCA

Falar um pouco da poeta Florbela Espanca, a qual tive o privilégio de conhecer sua obra através de um professor na Universidade. Quando o mesmo começou a declamar o poema" Fanatismo",  me apaixonei pela obra da autora , logo comecei a procurar os livros na internet, já que não temos livraria na minha cidade, nas minhas pesquisas encontrei Cherneca em Flor(1931), Livro de mágoas(1919), então, comecei a ler vários de seus poemas, desde então, pensei em compartilhar com os amantes de poesias assim como eu.

A poeta abordou temas como amor, erotização, angústia e sofrimento, trazendo a figura feminina para suas obras.Florbela d'Alma da Conceição Espanca (1894-1930). Nascida em Vila Viçosa, na região centro-sul de Portugal, Florbela perdeu a mãe muito cedo. Filha ilegítima de João Maria Espanca, foi registrada como se tivesse pai desconhecido e com o nome de Flor Bela Lobo. No entanto, João foi responsável por sua criação junto com a esposa, Mariana Espanca

Florbela escreveu seu primeiro poema entre 1903 e 1904: “A vida e a morte”. Na mesma época, fez um soneto em homenagem ao seu irmão Apeles.O primeiro conto escrito por ela foi “Mamã!”, em 1907, sobre sua mãe biológica, que morreria um ano depois.

Florbela Espanca é considerada uma mulher à frente de seu tempo apesar de não levantar bandeiras sociais como o Feminismo. A autora foi uma mulher Intensa, ela abordou o erotismo em parte de seus sonetos. A poeta mostrou que o tema poderia ser tratado por mulheres, o que era um tabu no início do século XX.

Em 1927, Florbela Espanca perdeu o irmão. Apeles morreu em um acidente de avião, o que marcou a vida da poeta até o fim. Cada vez mais debilitada pelo falecimento do irmão, Florbela tentou suicídio por três vezes, falhando nas duas primeiras e sendo a última fatal. Ela morreu no dia do seu aniversário de 36 anos, em 8 de dezembro de 1930, na cidade de Matosinhos, com superdose de barbitúricos.

A escritora foi intensa, e isso é perceptível em trabalhos como “A vida e a morte”, o seu primeiro poema. Apesar de ter sido escrito quando Florbela ainda era criança, com apenas 9 anos de idade, o texto já traz sua essência.

 

A vida e a morte 

 

O que é a vida e a morte

Aquela infernal inimiga

A vida é o sorriso

E a morte da vida a guarida

 

A morte tem os desgostos

A vida tem os felizes

A cova tem a tristeza

E a vida tem as raízes

 

A vida e a morte são

O sorriso lisonjeiro

E o amor tem o navio

E o navio o marinheiro