quinta-feira, 9 de junho de 2022

LOBOS DENTRO DE MIM

Um velho avô disse ao neto, que veio a ele com raiva de um amigo. “Deixe-me contar-lhe uma história. Eu mesmo, algumas vezes, senti grande ódio daqueles que me fizeram tanto mal, sem qualquer arrependimento das consequências de seus atos. Todavia o ódio corrói você, mas não fere seu inimigo. É o mesmo que tomar veneno, desejando que seu inimigo morra. Lutei muitas vezes contra esses sentimentos”.

E o avô continuou: “É como se existissem dois lobos dentro de mim. Um deles é bom não magoa. Vive em harmonia com todos ao redor dele e não se ofende. Ele só lutará quando for certo fazer isso, de maneira correta. Mas o outro lobo, ah!, este é cheio de raiva. Mesmo aas pequeninas coisas o lançam num ataque de ira! Ele briga com todos, o tempo todo, sem qualquer motivo. É uma raiva inútil, pois ela não irá mudar coisa alguma! Algumas vezes é difícil conviver com esses dois lobos dentro de mim, pois ambos tentam dominar meu espírito”. O garoto fitou intensamente os olhos do avô e perguntou: “ Qual deles vence vovô?”. O velho sorriu e respondeu baixinho: “Aquele que eu alimento mais frequentemente dentro de mim”.

sábado, 4 de junho de 2022

O PENHASCO DAS VIOLETAS: O CONTO


Há muito tempo, em uma ensolarada tarde de primavera, Hime, a bela filha de um poderoso senhor feudal chamado Asano Zenbei, foi colher flores no penhasco Shimizu, conhecido como “Poço das Violetas”. Ao estender a fina mão, porém viu apontar dentre as flores, a cabeça negra de uma grande serpente da montanha, pronta para dar o bote. Apavorada, a menina soltou um grito de dor e caiu desfalecida.

Uma de suas acompanhantes, chamada Matsu, ouviu o grito da princesa e correu até ela. Encontrou-a sem sentidos, e ao seu lado, uma serpente toda enrodilhada. Prontamente, a ama jogou o seu cesto sobre a cobra, que sumiu dentre as folhagens. Logo, todas as criadas foram se aproximando e a rodearam, tentando reanima-la. Mas tudo em vão, a cada minuto Hime se tornava mais lívida e fraca. —Fiquem tranquilas minhas jovens. Ouviram uma voz masculina atrás de si. — Eu conheço um modo de ajudar a princesa, se não se importam.

Quando ergueram seus olhares, um suspiro de espanto correu entre as damas. A sua frente estava o mais belo jovem que seus olhos já haviam tido o prazer de avistar. Trajado todo de branco, como um “Onmyoji” (praticante da ciência natural e ocultismo inspirado na filosofia chinesa yin-yang). Ele sorria-lhes com uma confiança que tirou de todas as testas o sinal de preocupação.

A LENDA DA VIOLETA

De acordo com a lenda, havia um rei na Inglaterra chamado de Rei Frost (frio gelado). Em seu reinado era inverno rigoroso durante todo o ano e a população, sem recursos para se aquecer, padecia com o frio excessivo que o rei lhes impunha. Frost, em seu palácio, apreciava a paisagem gelada, como seu coração. Ele não tinha amigos, não era apreciado pelos seus súditos e sentia-se só. Acreditava ser sua obrigação desposar uma rainha, tanto para ter um herdeiro quanto para espantar a solidão em seu grande castelo.

Sendo assim, enviou seus serviçais para que saíssem em busca de uma linda e carinhosa jovem que o ajudasse a espantar a tristeza de seu frio coração. A busca demorou a dar resultados, já que sua fama não era das melhores. Após andarem incansavelmente por muitos dias, os emissários encontraram, em um distante povoado primaveril, uma linda camponesa que ali vivia com a sua família. A jovem era tímida, mas extremamente bela. Possuía profundidade no olhar. Era humilde, caridosa e delicada, sendo, deste modo, a suposta esposa ideal para o rei Frost. A bela jovem se chamava Violeta.